Um Bálsamo Chamado Amizade



"Como as plantas a amizade não deve ser
muito nem pouco regada."
Carlos Drummond de Andrade
Cada amigo alojado no lado esquerdo do peito vale muito. Tanto que a vida perderia o sentido se eles não estivessem por perto, compartilhando alegrias e atenuando tristezas.
O número impressiona: uma rápida busca no Google para o termo amizade rende nada mais que 18 milhões de remissões. Não é para menos: são os amigos que nos dão colo, falam aquelas verdades que temos dificuldade de contar para nós mesmas, fazem parte da nossa história, enfim, estão sempre ao nosso lado, faça chuva, faça sol, muitas vezes desde os primeiros anos de vida. Eles também servem de inspiração para livros, filmes e letras de música -- quem não se lembra do refrão “Eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar”, entoado pelo rei Roberto Carlos. Tem ainda o filme O Náufrago (2000). Nele, o personagem interpretado por Tom Hanks só consegue aplacar o desespero provocado pelo isolamento total graças a Wilson, a bola de vôlei transformada em fiel escudeiro.
E olha que o tema não é fruto das necessidades contemporâneas, em que a solidão e o isolamento dão o tom. Na Antiguidade, os filósofos dedicaram um número considerável de reflexões ao assunto, tamanha sua importância na vida cotidiana. O romano Sêneca (4a.C.-65d.C.), por exemplo, mandou um recado a seus contemporâneos inflados pela onipotência: “Nunca a fortuna põe um homem em tal altura que não precise de um amigo”. Ao que acrescenta o psicólogo Antonio Carlos Amador Pereira, autor de O Adolescente em Desenvolvimento (ed.Harbra): “Se pensarmos evolutivamente, a amizade faz parte do instinto de sobrevivência, porque, uma vez agrupado, o homem faz as coisas mais rápido e melhor”.
Antonio Carlos também vê a amizade como uma via de mão dupla. “Se tenho um amigo, isso significa que também sou alguém com disponibilidade para escutar e partilhar as coisas.” Mas, além de acolher, o companheiro deve se sentir à vontade para dizer o que pensa. “É preciso haver espaço na relação para expor seu ponto de vista para o outro”, ele ressalta.
Cercada de apoio, sinceridade e confiança, a engrenagem da amizade embala. É inevitável. No entanto, alguns laços são mais duradouros que outros. Há amigos que a gente fica meses e até anos sem ver e quando reencontra sente que o tempo não passou. Outros, ao contrário, se filiam à nossa vida num determinado período e depois seguem carreira solo. “Amizade é uma questão de sintonia. Mas as pessoas se modificam e acabam perdendo essa conexão. É comum, por exemplo, reencontrar um amigo do colegial e ficar rememorando os tempos de escola. Porém, é evidente que a vida mudou para ambos e que aquela relação ficou no passado”, avalia o psicólogo.
Fonte: Raphaela de Campos Mello e Vivian Goldmann .
leia mais em revista Bons Fluidos Janeiro 2010

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